terça-feira, 30 de novembro de 2010

A presente auto-destruição capitalista




A queda do imperialismo soviético, do totalitarismo comunista na Europa, pôs fim ao que ficou na História como a “guerra fria”.
Para além da alegria esfuziante dos povos europeus, nomeadamente a dos povos libertos das ditaduras comunistas, o mundo livre, de certo modo, como que respirou de alívio. Continuou a ter as suas preocupações situadas nas áreas territoriais de potencial energético decisivo, continuou a se desinteressar pelas condições dos Direitos Humanos na África e na Ásia, continuou a não levar muito a sério certos fenómenos de socialismo grotesco na América Latina.
Sobretudo, ignorou a milenar Sabedoria chinesa. Só pensou em ganhar dinheiro com o regime político da República Popular da China. Não entendeu a ameaça da inteligente aplicação do marxismo pelo regime de Pequim – ao contrário da boçalidade imperialista e classista da defunta União Soviética – em suma, à boa maneira burguesa ocidental, a civilização dita “cristã” entrou num regabofe festivo, desde a vida financeira à decadente auto-destruição dos Valores seus pilares.
Isto é, enquanto a “guerra fria” pesou como uma ameaça às Democracias ocidentais, Estas tiveram de se “comportar com juízo”, quer por necessidade das perspectivas internacionais, quer até por causa da pressão da “ameaça interna” em cada País, forte nalguns casos e geralmente enfeudada ou conectada com Moscovo em termos intelectuais.
A própria liberdade dos mercados financeiros, factor indissociável de um regime democrático desde que apontada ao Bem Comum, o próprio funcionamento dos mercados financeiros decorria então numa certa perspectiva de responsabilidade que sabia avaliar repercussões sociais e políticas, num mundo em que as Democracias tinham de resistir aos efeitos da “guerra fria” e tinham de derrotar a ameaça comunista às Liberdades.
Caído o Muro de Berlim, foi um “ver se te avias”.
Não apenas por causa da euforia legítima dos mercados financeiros com essa entretanto vitória das Democracias, mas também devido à irresponsabilidade dos poderes políticos ante um mercado tornado cada vez mais desregulado e cada vez mais forte sobre tais mesmos poderes políticos.
Os legítimos Interesses nacionais e regionais foram cilindrados por um crescendo agressivo da força mundializante dos poderes financeiros e estes cada vez mais orientados pelas denominadas “sociedades secretas”, lógica e inteligentemente reforçadas pela natureza e objectivos com que passaram a actuar nas novas oportunidades planetárias.
A força destes grupos de interesses, funcionando à margem das transparências democráticas que os Direitos, Liberdades e Garantias dos Cidadãos exigem, invadiu cada vez mais os centros de decisão política, condicionando-os ilegitimamente em seu favor.
E chegámos à Situação em que nos encontramos.
Com as classes médias e os grupos sociais proletarizados a acabar por terem de pagar a factura.
Karl Marx não tinha razão nas suas posições contra a necessidade da liberdade responsável dos mercados financeiros, nem teve o tempo de vida suficiente para verificar que, concretamente, a “síntese final” com que sonhara, se transformou numa nova dialéctica de dominantes e dominados, de exploradores e explorados, com destruição criminosa da Dignidade da Pessoa Humana.
Mas Karl Marx tinha razão quando anteviu que o capitalismo, desde que não regulado com objectivos de Bem Comum e se funcionando apenas ao sabor de poderosos interesses não democraticamente transparentes, acabaria por trilhar os caminhos da auto-destruição.
Que fazer, ante instituições políticas fragilmente democráticas nem suficientemente transparentes, débeis ante o grande Capital financeiro, comprovadamente incapazes de restaurar o primado do Bem Comum?
Obviamente que reformá-las, contra qualquer espírito de situacionismo de manter o que está.
Reformá-las em termos de Estado forte e de Estados suficientemente fortes que não deixem fracassar as instituições internacionais de sua responsabilidade, neste momento à deriva de mercados desregulados e de capitalismos usurários.
Reformar em termos de Estado forte, não dependente do poder do grande Capital nem das força das chamadas “sociedades secretas”, mas autoridade democrática sobre o grande Capital, repondo-o na obrigação de Serviço ao Bem Comum, nem Estado permeável ou dominado pelo que não seja democraticamente transparente.
Este é o Estado forte de que agora as sociedades democráticas carecem.
Nunca ficar amarrado às choldras de sistemas políticos cuja inadequação tragicamente nos trouxe à presente Situação.
Sei que muitos dos que lerem isto, não gostarão.
Não me preocupa.
Porque também sei que outros muitos e o próprio tempo me darão razão. 1

«O burro, serei eu?...»

Post-Scriptum: Ultimamente, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa critica-me com certa frequência no tempo de antena de que dispõe.
Está no seu Direito, como também é meu Direito não subscrever várias posições que Ele vem assumindo.
O que, civilizadamente, não põe em causa, pelo menos da minha parte, uma amizade de muitos anos.
O «burro serei eu», em reagir contra os abusos político-partidários de um Governo socialista sobre um Povo que me elegeu?...
O «burro serei eu», em ter alertado sempre, contra a opinião dos situacionistas, que Portugal chegaria ao presente estado de coisas?...
O «burro serei eu», em discordar de um Orçamento de Estado que agravará insuportavelmente as condições de vida dos Portugueses e que não produziu, nos mercados financeiros, o «milagre» tão anunciado pela propaganda?...
O «burro serei eu», ao continuar ter Esperança em Portugal, mas defendendo outras alternativas possíveis e concretas, bem como ao assumir uma posição conforme aos Direitos e Opinião dos que me elegeram, e conforme ao que livremente entendo ser o Interesse Nacional?...


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