sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Impossibilidades no Programa Económico do PSD


O proto-programa económico do PSD advoga, como se antecipava, a defesa da poupança do Estado, das empresas e das famílias. E defende que as exportações e o investimento privado devem ser os motores da economia.

Eu percebo que a incoerência da frase anterior não seja transparente. Mas é fácil desnudá-la. Comecemos pela poupança das empresas. Importa notar que os lucros de uma empresa têm 2 destinos: lucros não distribuídos e lucros distribuídos (pelos sócios, ou pelos accionistas, consoante o caso). A poupança das empresas, que o PSD quer ver crescer, só pode ser aumentada se os lucros não distribuídos crescerem. O que, na cabeça iluminada de quem fez o programa eleitoral, seria uma forma de as empresas resolverem os seus problemas de estrutura de capitais: leia-se reduzir o endividamento. Sucede que se as empresas não distribuírem lucros, e tentarem o pagamento das suas dívidas por essa via, se gera um duplo paradoxo:
1. De onde vem a capacidade para as empresas investirem? Se os lucros não distribuídos são primordialmente afectos à redução de dívidas, onde estão os fundos para as empresas investirem? Endividando-se mais?
2. Se os lucros não são distribuídos, como espera o PSD que os empresários tenham incentivos a dinamizar a actividade económica? E a nível do mercado bolsista, sem dividendos, como espera o PSD tornar as acções atractivas para investidores não especulativos? Deseja criar um novo crash?

A economia não é uma ciência exacta, mas também não é um exercício de cartomancia. Há objectivos incompatíveis. O que o PSD sugere é uma impossibilidade. Ou um acto de fé no investimento privado: que teria lugar mesmo sem retornos.
Há já me esquecia, o seu fato aqui na foto foi mesmo da apresentação do seu programa eleitoral, e lembra um pouco aqueles que sempre defenderam África como nossa, os colonizadores!...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Disparates de Outono


Conta-se que, na terra mais ocidental da Europa, um dia foram ter com o primeiro-ministro e disseram ― Um jornal, outrora independente, publicou a suspeita de haver escutas em Belém a mando do Governo. A fonte é da Casa Civil, mas anónima. Que tem a dizer? O primeiro-ministro pediu uns minutos e foi consultar a sua rede de assessores, milhares espalhados em cada canto e recanto dessa terra. Perguntou-lhes pelo presidente, pelo que dizia, se confirmava ou infirmava a notícia. Mas nenhum dos assessores conseguiu encontrar algo mais sólido do que o silêncio. Então, o primeiro-ministro voltou e respondeu ― Essa notícia seria da maior gravidade, inaudita gravidade, se fosse séria. Sabemos que não é séria porque o presidente nada disse a seu respeito. Para nós, desculpem, o presidente ainda tem mais importância do que um jornal, mesmo esse que já foi independente. Assim, seria inconcebível que o nosso presidente utilizasse semelhante estratagema para denunciar a suposta situação, tal como seria inconcebível que o silêncio do presidente significasse outra coisa que não fosse ser essa notícia um dos típicos disparates de Verão. Disse. Virou costas. Deu um passo. Mas começou a pensar que a sua declaração, apesar de bem intencionada, podia ser mal interpretada. Tanta referência ao presidente, e para explicar o óbvio, até podia ser lido como sobranceria, pois tal matéria não era sequer digna de atenção. Afinal, esse era o próprio exemplo do presidente, do qual não tinha saído nem um murmúrio. Virou-se rápido e clamou ― Esperem. Olhem para esta caneta. A caneta emitia um clarão de luz que tinha poderes especiais. Ele carregou na tampa e a luz varreu a memória dos presentes. Então, ordenou ― Esqueçam o que vos disse antes. A resposta que devem publicar é só esta: “Disparates de Verão”.