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  O PROCESSO chamado 'Face Oculta' tem as suas raízes longínquas num fenómeno   que podemos designar por 'deslumbramento'.
 
  Muitos dos envolvidos no caso, a começar por Armando Vara, são   pessoas nascidas na Província que vieram para Lisboa,   ascenderam a cargos políticos de relevo e se deslumbraram. Deslumbraram-se, para   começar, com o poder em si próprio. Com o facto de mandarem, com os cargos   que podiam distribuir pelos amigos, com a subserviência de muitos   subordinados, com as mordomias, com os carros pretos de luxo, com   os chauffeurs, com os salões, com os novos conhecimentos.   Deslumbraram-se,   depois, com a cidade. Com a dimensão da cidade, com o luxo da cidade, com as   luzes da cidade, com os divertimentos da cidade, com as mulheres da cidade.
  
  ORA, para homens que até aí tinham vivido sempre na Província, que até aí tinham uma existência obscura, limitada,   ligados às estruturas partidárias locais, este salto simultâneo para o poder   político e para a cidade representou um cocktail explosivo.
 
  As suas vidas mudaram por completo.
 
  Para eles, tudo era novo - tudo era   deslumbrante.
  
  Era verdadeiramente um conto de fadas - só que aqui o príncipe encantado não   era um jovem vestido de cetim mas o poder e aquilo que ele   proporcionava.
 
  Não é difícil perceber que quem viveu esse sonho se tenha deixado perturbar.
 
  CURIOSAMENTE, várias pessoas ligadas a este processo 'Face Oculta' (e também   ao 'caso Freeport') entraram na política pela mão de António Guterres,   integrando os seus Governos.
 
  Armando Vara começou por ser secretário de Estado da Administração Interna,   José Sócrates foi secretário de Estado do Ambiente, José Penedos foi secretário   de Estado da Defesa e da Energia, Rui Gonçalves foi secretário de Estado do   Ambiente.
 
  Todos eles tiveram um percurso idêntico.
 
  E alguns, como Vara e Sócrates, pareciam irmãos siameses:     Naturais de Trás-os-Montes, vieram para o poder em Lisboa, inscreveram-se   na universidade, licenciaram-se ?!!, frequentaram mestrados.
 
  Sentindo-se talvez estranhos na capital, procuraram o reconhecimento da   instituição universitária como uma forma de afirmação pessoal e de   legitimação do estatuto.
 
  A QUESTÃO que agora se põe é a seguinte: por que razão estas pessoas   apareceram todas na política ao mais alto nível pela mão de António Guterres?
 
  A explicação pode estar na mudança de agulha que Guterres levou a cabo no   Partido Socialista.
 
  Guterres queria um PS menos ideológico, um PS mais pragmático, mais   terra-a-terra.
 
  Ora estes homens tinham essas qualidades: eram despachados, pragmáticos,   activos, desenrascados.
 
  E isso proporcionou-lhes uma ascensão constante nos meandros do poder.
 
  Só que, a par dessas inegáveis qualidades, tinham também defeitos.
 
  Alguns eram atrevidos em excesso.
 
  E esse atrevimento foi potenciado pelo tal deslumbramento da cidade e pela   ascensão meteórica.
 
  QUANDO o PS perdeu o poder, estes homens ficaram momentaneamente desocupados.
 
  Mas, quando o recuperaram, quiseram ocupá-lo a sério.
 
  Montaram uma rede para tomar o Estado.
 
  José Sócrates ficou no topo, como primeiro-ministro, Armando Vara tornou-se o   homem forte do banco do Estado - a CGD -, com ligação directa ao   primeiro-ministro, José Penedos tornou-se presidente da Rede Eléctrica   Nacional, etc.
 
  Ou seja, alguns secretários de Estado do tempo de Guterres, aqueles homens   vindos da Província e deslumbrados com Lisboa, eram agora senhores do país.
 
  MAS, para isso ser efectivo, perceberam que havia uma questão decisiva: o   controlo da comunicação social.
 
  Obstinaram-se, assim, nessa cruzada.
 
  A RTP não constituía preocupação, pois sendo dependente do Governo nunca se   portaria muito mal.
 
  Os privados acabaram por ser as primeiras vítimas.
 
  O Diário Económico, que estava fora de controlo e era consumido pelas elites,   mudou de mãos e foi domesticado.
 
  O SOL foi objecto de chantagem e de uma tentativa de estrangulamento através   do BCP (liderado em boa parte por Armando Vara).
 
  A TVI, depois de uma tentativa falhada de compra por parte da PT, foi objecto   de uma 'OPA', que determinou a saída de José Eduardo Moniz e o afastamento   dos ecrãs de Manuela Moura Guedes.
 
  O director do Público foi atacado em público por Sócrates - e, apesar da tão   propalada independência do patrão Belmiro de Azevedo, acabou por ser   substituído.
 
  A Controlinvest, de Joaquim Oliveira (que detém o JN, o DN, o 24 Horas, a   TSF) está financeiramente dependente do BCP, que por sua vez depende do   Governo.
 
  SUCEDE que, na sua ascensão política, social e económica, no seu   deslumbramento, algumas destas pessoas de quem temos vindo a falar foram   deixando rabos de palha.
 
  É quase inevitável que assim aconteça.
 
  O caso da Universidade Independente, o Freeport, agora o 'Face Oculta', são   exemplos disso - e exemplos importantes da rede de interesses que foi sendo   montada para preservar o poder, obter financiamentos partidários e promover a   ascensão social e o enriquecimento de alguns dos seus membros.
 
  É isso que agora a Justiça está a tentar desmontar: essa rede de interesses   criada por esse grupo em que se incluem vários "boys" de Guterres.
 
  Consegui-lo-á?
 
  Não deixa de ser   triste, entretanto, ver como está a acabar esta história para alguns senhores   que um dia se deslumbraram com a grande cidade.
 
  Esta é a forma mais eloquente de definir um parolo provinciano com tiques   de malandro, mas sempre de mão   estendida, pior que os arrumadores   que uma vez na vida se revelam minimamente úteis independentemente   do ar miserável como se apresentam e se comportam quando não se lhes dá a   famigerada moedinha .    PS . Neste   perfil cabem tambem O Dias Loureiro , o Oliveira Costa (BPN) , O Rendeiro   (BPP) e muitos gestores públicos e gabinetes de advogados que vendem o País   por meia duzia de tostões e que são deputados da Assembleia da República ,   onde controlam o poder legislativo em benefício de interesses    particulares . A dificuladade de aprovar legislação anticorrupção é um    exemplo paradigmatico .      |   
 
3 comentários:
Falemos do gang da Mealhada afecto ao PSD? Comecemos pelo chefe João Peres. Quantos já enganou?
Alma da Gente deve ver muitos filmes de fora da lei.
Só pode ser pelo que escreve...
POR FAVOR: http://thoughtsonmealhada.blogspot.com/
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